Nova agenda marca convenção brasileira de solidariedade a Cuba

16/06/2010 13:27

Com uma aula pública de salsa no Bric da Redenção, em Porto Alegre, foi encerrada no domingo, dia 6 de junho, a 18ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba. Centenas de porto-alegrenses, crianças, jovens e os de juventude acumulada dançaram a linda canção Iolanda, de Pablo Milanez, e a versão salsera com dançarinos cubanos.

Segundo resumo publicado pela Associação de José Martí do Rio Grande do Norte, o movimento brasileiro de solidariedade a Cuba incorpora às suas ações novas iniciativas, além de denunciar o bloqueio e a prisão dos Cinco. Isso faz surgir uma renovada agenda de ações e de lutas, à sombra da nova conjuntura continental, marcada pela prevalência de governos de cunho popular.  

Desde que as relações entre Brasil e Cuba foram reatadas, em 1986, no governo Sarney, elas vieram mantendo um ritmo marcado por certa timidez – explica o documento - com alcance e volume muito inferiores ao potencial que os dois países tinham, em face das inúmeras compatibilidades históricas e culturais, sem o potencial científico-técnico.

A chegada de Lula à presidência fez mudar o panorama. A presença de Fidel Castro em sua posse e sua participação na posse do ministro da Educação, Cristóvão Buarque foram provas da nova etapa das relações.

 

Memória

Um dos novos pontos da agenda supõe a recuperação da memória histórica das relações mútuas. Este foi o tema de um dos painéis na convenção, pois garimpar, recuperar e preservar a memória é tarefa de enorme importância.

A começar pela conscientização do povo brasileiro e o mundo que a solidariedade brasileiro-cubana começa com a presença de dois cariocas, mulatos, que lutaram no exército de José Martí e cá morreram, transformando-se em semente poderosa. Assim foi também com a incorporação do general Abreu e Lima no Exército Libertador de Simón Bolívar, tornando um dos heróis da Grande-Colômbia.

Também houve participação brasileira, na campanha de alfabetização que foi um dos primeiros empenhos da recém triunfada Revolução. Brasileiros com grande experiência em educação e que tinham trabalhado com Paulo Freire no Brasil, ao serem expulsos do país pelo golpe de 1964, incorporam-se aos esforços da profunda revolução educacional que Cuba promoveu. É o caso da pedagoga Josina Godoy, autora do livro Viver em Cuba, que mais tarde vai também prestar solidariedade na África junto com educadores cubanos, dar sua experiência à tarefa de eliminar o analfabetismo em Moçambique.

Agregue-se a isto a experiência vivida pelo médico Davi Lerer, exilado brasileiro em Angola e que prestou também sua solidariedade no atendimento de soldados cubanos que estavam na pátria de Agostinho Neto em armas contra o regime nazista do apartheid, apoiado pelo imperialismo dos EUA.

 

Guerra midiática

A convenção debateu também a incessante campanha de destruição da imagem de Cuba, praticada pelos veículos de comunicação comerciais, sem que lhe seja permitida qualquer possibilidade de oferecer uma outra versão sobre os acontecimentos. Isso não é jornalismo, é campanha, disseram os presentes.

É justo neste terreno em que surgem possibilidades para novas iniciativas e propostas de cooperação. Uma delas é fazer com aumente o alcance do canal muti-nacional alternativo Telesur, cujo telejornal se vê pela TVE do Paraná. O jornal exibe uma imagem de um continente em pleno processo de transformações sociais, sem a imagem distorcida dos monopólios da informação.

Outra tarefa é encorajar a Empresa Brasil Comunicação (EBC) a firmar acordos com a Agência Prensa Latina, que tem jornalistas em vários países do mundo e difunde diariamente matérias em português.

Inexplicavelmente não aproveitadas pela empresa pública brasileira, apesar das reiteradas declarações de Lula em favor de uma maior cooperação com Cuba.

A convenção de solidariedade aprovou a gestão de esforços para que a TV Brasil tenha sucursal em Havana, para que as tevês educativas de cada estado, onde for democraticamente possível, firmem convênios de cooperação com a Telesur, com a TV Cubana, com a Prensa Latina, iniciativa que deve se estender às tevês comunitárias que também podem transmitir alguns programas latino-americanos, com o respaldo da Constituição, assim como já o fazem as tevês comunitárias de Brasília, Rio de Janeiro, Florianópolis e Recife.

Cabe à solidariedade fazer as gestões junto a governos, tevês educativas, universitárias e comunitárias em cada estado.

Estas modalidades de cooperação ajudariam enormemente a contrabalançar o cerco midiático contra Cuba, além de oferecer ao povo brasileiro a oportunidade de conhecer a realidade cubana e latino-americana, hoje escondidas pela matriz informativa de Hollywood que nos é imposta.

Aumentar presença de literatura cubana e latino-americana no Brasil, como mesmo acontece com a literatura do país sul-americano na ilha, onde já foram editados, com enormes tiradas, muitas das obras-primas do movimento intelectual brasileiro.

Pensando em termos práticos, a convenção de Porto Alegre aprovou a realização de convênios entre os ministérios da Cultura de Cuba e do Brasil para que sejam legendados e exibidos pela TV Brasil os principais filmes da cinematografia cubana, que nós ainda desconhecemos, embora sejam obrigados a assistir produção de Hollywood.

Os participantes também se propuseram a trabalhar para que as faculdades públicas de comunicação do Brasil realizem cooperação com o Instituto

Internacional de Jornalismo José Martí, sobretudo, para o desenvolvimento de novos conceitos para elaborar um jornalismo de integração.

 

Saúde, ciência e educação

O avanço da cooperação que os governos do Brasil e de Cuba já operam colocam enormes possibilidades para o movimento de solidariedade atuar em níveis muito mais audaciosos e criativos. Mesmo havendo entraves e obstáculos ainda não superados, entre eles a revalidação dos diplomas dos médicos brasileiros formados, gratuitamente, pela ELAM, Escola Latino-Americana de Medicina.

Em onze anos de existência, dezenas de milhares de jovens de países pobres da América Central, da África e até da Ásia tiveram a oportunidade de estudar medicina, chance que provavelmente não teriam em seus respectivos países. Há ainda 500 jovens pobres e negros dos EUA, do Harlem e do Brooklin, lá estudando.

A solidariedade está mobilizada para impulsionar uma solução legal, com o apoio do governo, para a revalidação dos diplomas dos 800 médicos brasileiros formados em Cuba e que ainda estão impedidos do livre exercício da profissão tão necessária ao povo brasileiro.

Em 2004 – explicam os ativistas – 120 médicos cubanos que estavam atuando em paupérrimas cidades de Tocantins, com altíssimas taxas de mortalidade infantil, foram obrigados a deixar o Brasil em razão de ação judicial interposta pelo Conselho Federal de Medicina.

Certos segmentos de profissionais brasileiros não vão aos lugares mais inóspitos. Porém não aceitam que médicos cubanos lá estejam. Isto nos leva a refletir sobre como há várias leituras do juramento de Hipócrates.

Há projetos de lei em curso para solucionar a questão, mas os ritmos do parlamento são complexos, enquanto a vida dos pobres é de dolorosa urgência em matéria de saúde, disseram os participantes da conferência.

Falaram, aliás, na solidariedade de Cuba no caso específico de Timor Leste e se perguntaram por que o Brasil, uma nação com grandes recursos, não prestava ajuda semelhante à nação timorense.

 

Agência Cubana de Notícias


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Grupos de Trabalho da XVIII Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba.docx (23,2 kB)