Novo livro de Salim Lamrani debate sistema político e social cubano

21/11/2015 13:47

O acadêmico francês Salim Lamrani, estudioso de Cuba, publica um novo livro intitulado Cuba, Parole a la Defense!, com um prólogo de André Chassaigne, presidente do grupo França-Cuba da Assembleia Nacional e membro de honra da associação Cuba Coopération. Em entrevista ao jornal francês Cuba Coopération, ele discorre sobre sua publicação.

Por Roger Grévoul, na Cuba Coopération

 

Virgilio Ponce
Salim LamraniSalim Lamrani

Salim Lamrani, você acaba de publicar um livro com o título "Cuba, parole a la defense!” O que pode nos dizer a respeito?

Tudo começou a partir da seguinte constatação: Cuba é um tema midiático que suscita debates e controvérsias. Isto é particularmente certo, sobretudo, agora, com o processo de normalização entre Washington e Havana desde dezembro de 2014, e a visita histórica do presidente francês, François Hollande, à ilha, em maio de 2015. Não obstante, convém apontar que só o pensamento único sobre Cuba é aceitável. A ilha se encontra regularmente no banco dos acusados e regularmente surge a tradicional retórica sobre a democracia, os direitos humanos e a liberdade de expressão. Todo o mundo tem direito à palavra, pode expressar sua opinião e compartilhar seu ponto de vista, desde logo, sempre que aponte com o dedo Cuba e seu sistema, e emita críticas negativas. Os cubanos da ilha, particularmente seus dirigentes, nunca têm direito à palavra e, por conseguinte, não pode ser partícipe de sua verdade e responder aos ataques, quando são os principais atores do destino de Cuba. Por isso decidi dar a palavra à defesa composta por 10 personalidades cubanas e internacionais, que puderam expressar seu ponto de vista nestas conversações francas.

Quem são essas personalidades?

Conversei com sete figuras cubanas e três personalidades internacionais para que compartilhassem sua visão sobre Cuba, sua história e seu futuro. 

Trata-se de Mariela Castro Espín, diretora do Centro de Educação Sexual e filha do presidente Raúl Castro; Ricardo Alarcón, presidente do Parlamento cubano de 1993 a 2013; Max Lesnik Menéndez, diretor da Rádio Miami e fundador da revista La Nueva Réplica [A Nova Réplica]; Miguel Barnet Lanza, presidente da União Nacional de Escritores e Artistas de Cuba; Eusebio Leal Spengler, historiador de Havana; Abel Prieto Jiménez, ministro da Cultura por cerca de 15 anos e, atualmente assessor do presidente da República; Alfredo Guevara Valdés, pai do cinema cubano e do Novo Cinema Latino-Americano; Wayne S. Smith, último embaixador dos Estados Unidos em Cuba; Jean-Pierre Bel, presidente do Senado francês de 2011 a 2014 e atualmente assessor especial do Eliseo para a América Latina; e Álvaro Colom, presidente da Guatemala de 2008 a 2012.

Quais são os temas abordados?

A ideia do livro era dar a palavra aos cubanos e aos partidários da soberania das nações e da autodeterminação dos povos. Não obstante, o principio fundamental era realizar conversações não complacentes. Por isso são abordados os temas mais polêmicos em todas as entrevistas, seja a democracia, os direitos humanos, a liberdade de expressão, as figuras de Fidel Castro e Raúl Castro e sua presença no poder, os episódios obscuros da Revolução Cubana, as discriminações, o espaço reservado ao debate plural ou à dissidência.

São abordados também outros temas, como as relações com os Estados Unidos, as sanções econômicas, a atualização do modelo econômico, a diversidade sexual, o papel da comunidade cubana dos Estados Unidos, a importância da cultura, a preservação do patrimônio arquitetônico de Havana, o auge do turismo, a solidariedade de Cuba com os deserdados do planeta, o cinema em Cuba, a renovação geracional no comando do país, o futuro de Cuba e a integração latino-americana.

Você salienta em seu livro o paradoxo de ver Cuba vítima das pretensões hegemônicas estadunidenses e assediada há mais de meio século situar-se no banco dos acusados.

Efetivamente, Cuba vive sob estado de sítio há mais de meio século. Não se livrou de nada: algumas sanções econômicas anacrônicas, cruéis e injustas, que afetam todos os setores da sociedade e as categorias mais vulneráveis da população desde 1960; uma sangrenta invasão militar, que orquestrou a CIA em 17 de abril de 1961 e que causou centenas de vítimas civis; uma ameaça de desintegração nuclear durante a crise dos mísseis, em outubro de 1962; a campanha terrorista mais longa da história, com mais de 10.000 atentados planejados a partir dos Estados Unidos, que custaram a vida a 3.478 pessoas e infligiram sequelas permanentes a outras 2.099, bem como danos materiais em torno de várias centenas de milhões de dólares; sem esquecer uma implacável guerra política, diplomática e, sobretudo, midiática contra seu povo, seus dirigentes e, sobretudo, contra seu sistema político e social.

Contudo, a vendeta midiática assinala Cuba como culpada. Que constatação mais estranha! Como explica estas reações contra Cuba?

O crime imperdoável de Cuba é ter escolhido o campo dos deserdados e ter colocado o ser humano no centro do seu projeto nacional, procedendo a uma repartição equitativa das riquezas. O povo cubano propõe à humanidade uma alternativa de sociedade eficiente, apesar dos limites inerentes a todo projeto edificado por mulheres e homens, que mostra que os mais humildes não estão condenados à indiferença e à humilhação.

André Chassaigne, presidente do grupo parlamentar Esquerda Republicana e Democrata e do grupo França-Cuba da Assembleia Nacional, é também membro de honra da Cuba Cooperación. Redigiu um bonito prólogo para sua obra.

André, um grande amigo da Revolução Cubana, me deu a imensa honra de associar sua escrita fina e incisiva ao meu livro. É um homem que tem a causa dos humildes e dos humilhados no coração. É sensível à necessidade imperiosa de uma melhor repartição das riquezas e de oferecer aos mais vulneráveis uma vida digna. Como muitos de nós, vê em Cuba um símbolo de resistência e de generosidade.


 

Traduzido pela Adital