PC de Cuba esclarece mudanças e critica distorções da mídia

04/12/2010 14:34

O Partido Comunista de Cuba enviou carta a forças políticas e movimentos sociais do mundo todo, para esclarecer mudanças na política econômica e social propostas no documento preparatório ao seu VI Congresso. O texto rebate “a grande imprensa monopolizada”, acusando-a de “distorcer e reinterpretar” o conteúdo do projeto. E reafirma que a defesa da independência e do socialismo serão sempre as bandeiras principais do processo revolucionário cubano.

De acordo com a carta, assinada pelo Departamento de Relações Internacionais do partido, os documentos que estão sendo debatidos no processo que antecede o Congresso, “encarnam a essência da atualização que exige o nosso modelo econômico, baseado no planejamento e não no mercado”.


O PC explica que o evento, marcado para abril de 2011, acontecerá num contexto caracterizado pelo enfrentamento aos efeitos de 50 anos de guerra econômica dos Estados Unidos e pela perda de quase 21 bilhões de dólares, entre 1998 e 2008, por eventos climáticos.

“Internamente, agravam esta situação a baixa eficiência de várias das nossas divisões produtivas; a descapitalização da base produtiva e da infra-estrutura; o envelhecimento e o estancamento do crescimento da população; e medidas conceituais e humanas, acertadas em seu momento, mas que, à luz de hoje, precisam ser erradicadas”, escreve o partido.


Segundo o texto, a mídia e muitos “auto-intitulados analistas sobre temas cubanos” modificam o sentido e o alcance das medidas que estão sendo debatidas em Cuba, para “macular o espírito humanista de nosso projeto socialista”.


O comitê central do PC dá como exemplo a cobertura jornalística feita sobre o anúncio da mais delicada das mudanças: a eliminação de cerca de 1 milhão de postos de trabalho, avaliados como desnecessários pelo Estado, 500 mil deles até março de 2011. O tema tem sido tratado pela imprensa internacional como uma medida de “demissão em massa” e, de acordo com a carta, alguns veículos a chamam de “terapia de choque”.


O partido, contudo, revela a manipulação midiática, ao apontar os reais objetivos da decisão, omitidos no noticiário. “Trata-se de um processo encaminhado para conseguir melhor reordenar e distribuir a força de trabalho e, gradualmente, erradicar o fenômeno pernicioso do subemprego; fazer sustentável e eficiente, do ponto de vista econômico, o nosso projeto revolucionário e socialista nas condições atuais já descritas; e corrigir medidas que levaram nosso Estado a assumir posturas paternalistas que arriscavam a continuidade do socialismo em Cuba”.


De acordo com Cuba, a mudança pretende reorientar boa parte dessa mão de obra para os setores produtivos que a economia do país hoje necessita. “Além disso, pouco mais de 20% desses 500 mil só mudarão a forma de gestão, o que reduzirá a carga fiscal do estado e resultará, portanto, em maior eficiência na produção e nos serviços”, detalha a carta.


No texto, o PC reitera ainda a “firme vontade” do estado de manter as conquistas sociais e de não deixar desamparado nenhum trabalhador, “mas agora sob fórmulas mais sustentáveis”.

 

“A grande imprensa monopolizada tampouco dirá que as medidas que hoje se implementam e que serão aprovadas no VI Congresso do PCC contêm uma análise oportuna e reflexiva e as sugestões que o povo tem manifestado no debate que se estabeleceu em Cuba, sobre o futuro da Revolução, e que tem três grandes momentos”, afirma a carta.


Uma das referências é a um discurso proferido por Fidel Castro, em 2005, no qual ele chama a refletir sobre os “perigos internos que ameaçavam a revolução”. O outro momento citado é o que se segue à intervenção de Raúl Castro, em 26 de julho 2007, na qual ele afirmou que o governo estaria analisando possíveis mudanças na economia. “O povo teve a oportunidade de expressar seus critérios sobre a sociedade, a revolução e o futuro do socialismo em Cuba”.

 

O texto diz que esse processo de discussão “continuou em 2008, mas no interior de cada setor produtivo e social, com o objetivo de que fossem propostas todas as soluções possíveis para diagnosticar e corrigir as deficiências do nosso modelo econômico”. O partido afirma, então, que todas as opiniões foram recolhidas e são a bússola do que se debate hoje.


O terceiro momento de discussão é o Congresso, cujas propostas já estão circulando nas ruas, para análise crítica da população. O PC afirma, então, que o documento “é o resultado das discussões anteriores e não está fechado, porque mais uma vez recolherá opiniões e sugestões que serão discutidas e aprovadas pelos delegados ao VI Congresso”.


Ao encerrar o texto, no qual se dirige aos amigos e amigas, o partido deixa claro que Cuba está consciente do papel que joga hoje no mundo e de que abandonar o caminho do socialismo seria “um suicídio, pois sucumbiria nossa soberania e trairíamos milhões de mulheres e homens que sacrificaram suas vidas defendendo o progresso da nação”.


“Asseguramos aos nossos amigos e amigas no mundo que a defesa irrenunciável da nossa independência e de nosso socialismo são hoje e serão sempre a bandeira principal do processo revolucionário cubano”, encerra o texto.


Da Redação